sábado, 10 de maio de 2014









Depois de alguns anos sem ir a São Paulo, esse carioca da gema, com um pé – e uma cabeça enorme – no agreste pernambucano, foi conferir o que se passa na terra da garoa. Tenho família por parte de pai (conterrâneo do Lula e Eduardo Campos) que mora lá desde a década de 70.


E confesso: os paulistas não tem muito do que se orgulhar. A cidade, uma das maiores do mundo, ainda pena em diversos quesitos como o de infra-estrutura e até abastecimento de água. O racionamento já está comendo solto e o governador tucano está botando até a polícia para reprimir quem desperdiça água irresponsavelmente – o que vale principalmente para quem tem o deplorável costume de varrer a calçada com a mangueira.


Mas, desgraçadamente, tenho que admitir: os cariocas têm um mundo de razões para se envergonhar. Foi-se o tempo que os habitantes da cidade “maravilhosa” só sofriam de algum complexo de inferioridade quando tinham o seu doce recanto comparado com grandes obras-primas do universo urbano como Paris, Londres, Nova York e Amsterdam. Num tempo mais distante (bem mais), os cariocas morriam de inveja de Montevidéu e Buenos Aires. Foi-se o tempo. Pois hoje o Rio já ficou para trás, em termos de infra-estrutura, de cidades como Bombaim, Bogotá, Cidade do México e Cingapura. (Até 2003 é bem provável que perdesse para Bagdá também).


Porém, não há situação mais vexatória e dolorida para o carioca do que ele ter que constatar que São Paulo se encontra atualmente anos-luz a frente da Muy Leal e Heroica Cidade de São Sebastião.


Que ironia do destino, a cidade que muitos cariocas tinham o prazer em fazer troça, como a de chamá-la de “cemitério do samba” (Vinícius de Moraes), hoje é em quase tudo superior à capital ensolarada. A despeito da calamitosa situação vivida pelo MASP e, como já citado, da água, o que se vê é um festival de casos que tornam flagrante o quanto o Rio ainda se encontra estacionado no período colonial.


O gigantesco metrô do Rio. E suas 2 linhas...



 Desde meados da década de 80 o Rio convive com 2 linhas de metrô, passadas quase quatro décadas a cidade prossegue com as mesmas 2 linhas. Com quase nenhuma expansão de estações. A única coisa que se multiplica são os atrasos, os acidentes, as superlotações, o descaso e o desrespeito ao usuário-cidadão. Já em São Paulo, quando lá estive pela última vez – e isso em 2009 - a cidade só contava com 6 linhas, o que era um absurdo para uma metrópole de quase 20 milhões de sofredores. Hoje os paulistanos já usufruem de 12 linhas. É pouco? Claro que ainda sim. Mas, convenhamos, a cidade dobrou o tamanho de seu sistema. E outro detalhe: em que pese algumas linhas sofrerem de crônica superlotação, os trens são de excelente qualidade (a um custo que as autoridades policiais estão investigando, é bom que se diga!). Cobrem praticamente toda a cidade. Já no Rio, mais de 70% de seu território e a gigantesca população que nele vive continuam sendo refém de cartéis do transporte sobre rodas, que massacram o pobre do trabalhador com doses insuportáveis de desrespeito. Cartéis esses que continuam agindo e se multiplicando como uma praga de Baratas....

O metrô de SP...


Já os trens paulistanos são de qualidade inferior em comparação aos do metrô. Mas mesmo assim eles conseguem ser bem melhores do que as sucatas rodantes da Cia. de trens do estado fluminense. Na verdade, para que um sistema de trens seja superior a sua congênere do Rio, basta que os vagões andem e não descarrilem. Mesmo que sejam muito ruins, eles têm tudo para ser bem mais confortáveis do que os vagões da morte que vitimam os pobres trabalhadores da terra do samba.


E o poder público daqui ainda tem a desfaçatez de apresentar uma solução para esse grave problema do transporte: corredores expressos para os ônibus. É como se propusesse como solução para a sujeira da cidade jogar mais e mais lixo na rua.


Aliás, as ruas da cidade de São Paulo encontram-se muito mais limpas do que no Rio. Até aí, nada demais. Quase sempre foi assim. O Rio nunca foi uma das cidades mais limpas mesmo.  Agora é chocante ao nos depararmos com o Rio Tietê vermos que embora ainda continue bastante poluído, um imenso programa de obras está sendo feito para que ele volte a ser ao menos líquido.


Já em terras da Garota de Ipanema, as praias estão cada dia mais poluídas, a baía de Guanabara virou praticamente um monumental repositório de dejetos (líquidos, sólidos, gasosos, cósmicos etc.). Um show de horror, ainda mais tendo-se em vista o mar de dinheiro gasto para a sua despoluição - e por décadas. Mas a dinheirama acabou escoando, não para a baía de Guanabara, mas, muito provavelmente para a compra de muito sapato Louboutin à beira do Rio Sena, à Paris...


As ruas paulistanas vencem não apenas em questão de limpeza. Em termos de segurança também. Tais ruas lembram as de Copenhagem, de Berna ou Lausanne?? – Claro que não!  Mas já passavam de 11 horas da noite de um domingo e junto com minha esposa passeávamos tranquilamente em plena avenida Paulista, em meio a apresentações de músicos, feiras, escambos e outras pessoas que passeavam, tomavam sorvete, namoravam, fumavam cigarro ou outra coisa.


Agora, vamos lá: você teria coragem de andar pela avenida Rio Branco à luz do dia num sábado ou num domingo?


Tudo bem – muitos vão dizer – que São Paulo é a maior cidade do país. Mas – diabos - o Rio é a segunda. Do jeito que está parece que está abaixo da última. Mas um dado que joga por terra qualquer desculpa é o fato de que a cidade vem recebendo a pelo menos uns 10 anos um volume de dinheiro colossal, em razão da realização de grandes eventos como os Jogos Pan-Americanos, a Copa do Mundo e as Olimpíadas. E ao fim e ao cabo a gente tem a impressão que o grande evento que o Rio sediou foi uma Guerra.

Ou é possível pensarmos que o Rio, ao contrário de São Paulo, ainda não ultrapassou o período colonial?


Cartas para o governador Pé Grande.








Leonardo Soares dos Santos, professor de História da UFF.

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